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A Figura Humana

A FIGURA HUMANA é o principal tema da arte, pois o artista projeta uma versão de si mesmo, na medida em que concretiza o seu ideal estético. Desde a antiguidade até os nossos dias, a figura humana ainda causa um misterioso fascínio, pois a contemplação de seu semblante leva-nos à reflexão sobre si mesmo. A arte da figura humana é uma oportunidade ao ser de reinventar e buscar a realização de um certo ideal.

Resolvi fazer essa série de vídeos, pois a disciplina da figura humana é um dos grandes desafios do artista. Vivemos numa cultura de extremos, onde ou copiamos de fotos buscando um realismo exacerbado, esquecendo a originalidade da criação artística, ou desembestamos em uma expressividade totalmente espontaneísta, desinteressada de qualquer formalismo. Conservadorismo e vanguarda não são fáceis de se conciliar.

Nesse vídeo eu faço uma introdução ao tema, contextualizando a representação da figura humana na história da arte, e sua relação intrínseca com a “mimese”, ou seja, a tentativa de representar, na arte, a realidade de forma o mais fidedigna o possível. O paradigma da “mimese” nas linguagens artísticas foi quebrado a mais de cem anos com o advento da fotografia, um meio muito mais eficiente de retratar a “realidade”. A fotografia foi o estopim de um grande cisma no universo da arte, culminando nos diversos movimentos artísticos do modernismo, do pós-modernismo e da contemporaneidade.

Qual o papel da arte? Certamente já não é o de representar a realidade de forma fidedigna. Apesar dessa constatação óbvia, a maioria das pessoas sem formação específica em arte, ou de cultura mais limitada, ainda relacionam a qualidade de uma obra de arte de acordo com o seu grau de mimese, ou seja, o quanto as formas representadas na obra se aproximam da “realidade”.

A partir do classicismo greco-romano, contatamos um desenvolvimento na arte da mimese nos vários períodos históricos, culminando no preciosismo da renascença italiana. A arte continuou com a sua função retratista e a “mimese” desempenhava um paradigma ainda rígido nas artes visuais, pois a função do artista não era apenas de criação mas também de retratismo. Esse retratismo era uma função social muito importante, pois o artista deveria retratar não apenas pessoas ilustres, mas de toda um sociedade, toda uma época. Isso lhe dava o status de documentador de seu momento histórico, preservando-o para as gerações futuras. Hoje em dia, essa função obviamente não cabe ao artista.

A partir do advento da fotografia, no final do século 19, o artista passou a desempenhar o papel de reinventar ou reinterpretar a realidade de forma mais subjetiva, rompendo aos poucos com os paradigmas do realismo ou “mimese”. Esse cisma culminou nos movimentos artísticos de vanguarda através das guerras mundiais e nos anos 70 muitas revoluções já haviam se dado nos meios de representação artística. Um grande exemplo é o abstracionismo, onde nada é representado em absoluto, sendo a imagem de puro valor concreto e não simbólico, ou seja, uma forma é apenas uma forma, e não representa um outro objeto que exista na “realidade”.

As linguagens da arte contemporânea são elitistas nos sentido cultural e refletem uma mudança no equilíbrio de poder na sociedade. A arte moderna se relaciona à revolução industrial e à ascensão da burguesia comercial, enquanto os movimentos contrários do tradicionalismo artístico relacionam-se à antiga estrutura de poder feudal, escravista e agrícola. Essa mudança no equilíbrio de poder refletiu-se em disputas nos movimentos artísticos. Um bom exemplo é a crítica severa da aristocracia rural brasileira à Semana de Arte Moderna de 1922, que pode ser encarada como uma grande afirmação do novo status quo industrial da sociedade brasileira, sobretudo do sudeste do país.

Entre a representação realista e tradicional, relegada a um tradicionalismo arcaico ou à cultura de massa, e a arte propositalmente elitista dos movimentos contemporâneos, podemos situar o universo da cultura geek ou pop. A cultura pop é uma manifestação ainda mais popular e simplificada da cultura tradicional, que incorpora alguns elementos estéticos da contemporaneidade em narrativas sobretudo heroicas.

A figura humana pode ser representada de várias formas e distorcida de acordo com vários “estilos” mais ou menos comerciais que encontramos na cultura pop. No que concerne aos quadrinhos, essas distorções correspondem a determinados mercados geograficamente localizados, principalmente no eixo franco-belga, com as “bande dessinées”, nos Estados Unidos com os “comics” de super-heróis, e no Japão com os “mangás”. Esses três grandes mercados de quadrinhos tem características próprias, mas representam a figura de acordo com certos parâmetros próprios, de acordo com nichos e sub-nichos de mercado.

O artista tem toda a liberdade escolher o seu próprio “estilo” de expressão para desenhar a figura humana. Muitos artistas visuais sequer utilizam figurativismo em suas obras. No entanto, para o artista de quadrinhos, o animador e o desenhista figurativo, um estudo judicioso da figura humana é muito importante, pois domínio sobre a forma, tal e qual se apresenta a nossos olhos, é o primeiro passo para o desenvolvimento de uma expressão própria, original e única da figura humana.

Um abraço,

Pedro Ponzo

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Sobre o Autor

Pedro Ponzo
Pedro Ponzo

Sempre fui apaixonado por histórias em quadrinhos, por todas as possibilidades desta linguagem artística. Depois de atuar profissionalmente em vários mercados de ilustração e quadrinhos, hoje me dedico à minha arte autoral. Sou o criador de Método Arte dos Quadrinhos, que ajuda as pessoas a criar e publicar as suas próprias HQs.

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